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João Alexandre Gonçalves e Thiago Gomes

Basquete está em decadência na cidade de Mariana

Sem projetos públicos relacionados à modalidade desde o início de 2024, atletas e demais praticantes do esporte se veem sem perspectivas na esfera local

#ParaTodosVerem - Em primeiro plano, uma bola de basquete laranja mais à esquerda sobre o piso azul e amarelo com algumas rachaduras da quadra. Em segundo plano, uma tabela de basquete azul escura com o aro laranja sem rede. Casas, carros e árvores desfocados mais ao fundo.
A Quadra do bairro Chácara é um dos poucos locais para praticar basquete em Mariana. Foto: João Alexandre Gonçalves

Em Mariana, a prática de basquete teve ampla ascensão após o período da pandemia, mas enfrenta um grande desafio em 2024: a falta de investimentos públicos. Desde o início do ano, a modalidade foi deixada de lado nos projetos públicos relacionados ao esporte. O “Educar pelo Esporte”, por exemplo, foi um projeto criado pela Prefeitura de Mariana, por meio da Secretaria de Esporte e Lazer, e que funciona ativamente desde 2022. Com o intuito de promover a prática esportiva diária para a população, oferece aulas de futebol, futsal, ginástica, handebol, judô, treinamento funcional e vôlei, mas não de basquete.


Na categoria sub-17 de basquete, a Escola Estadual Dom Silvério, de Mariana, sagrou-se campeã durante a etapa microrregional do JEMG 2023 (Jogos Escolares de Minas Gerais). Esta poderia ter sido a oportunidade para incentivar a prática no município, mas a realidade ficou bem distante disso. Desde o segundo semestre do ano passado, quando a Arena Mariana, principal espaço de práticas esportivas, foi interditada por insegurança relacionada à má qualidade de seu piso, os atletas locais se depararam com um grande empecilho: a inadequação das quadras da cidade para a prática do esporte e a grande necessidade de manutenção nos locais.

#pratodosverem: Na parte inferior da imagem é mostrado um piso azul e amarelo com manchas escuras. Acima, três holofotes apagados e um aceso. Na parte superior da imagem é constituído pelo céu limpo com casas ao fundo.
Quadra da Chácara com iluminação fraca e inadequada para prática de esportes. Foto: Thiago Gomes

Marcos Antônio de Paula, de 18 anos, atleta de basquete e que fazia parte da equipe campeã da etapa microrregional do JEMG de 2023, relata alguns dos problemas enfrentados nas quadras de Mariana: “O chão é horrível, horrível para o basquete. Às vezes não tem suporte, nem tabela também. Se você vier aqui na quadra da Chácara, você vai ver que a quadra de futsal é coberta e a do basquete, que nem é de basquete, é poliesportiva, é aberta. Além disso, se você olhar na de basquete, você vai ver só uma luz que funciona. O que mais ilumina a quadra de basquete são as luzes da quadra de vôlei de praia.”


Mesmo com a reforma ocorrida em 2024, a Arena Mariana não pôde voltar a receber o basquete. Como a reforma foi uma parceria com o Cruzeiro Futsal para que o time pudesse sediar jogos do campeonato brasileiro no local, as marcações e o tamanho da quadra foram adequados respeitando as medidas exigidas pela Confederação Brasileira de Futsal (CBFS). Caso as medidas e marcações fossem alteradas para a múltiplas práticas e englobar mais esportes, o contrato previa a cobrança de multas.

#pratodosverem: Na parte inferior da imagem é mostrada a quadra da Arena Mariana com piso azul e coberta ao centro por tatames azuis e amarelos. A metade superior da imagem é constituída pela cobertura e iluminação da Arena.
Novo piso da Arena Mariana após reforma. Foto: João Alexandre Gonçalves

Avelino Silva, assessor técnico do secretário de esportes de Mariana, Gustavo Gomides, afirmou que apenas agora, quase um ano depois da primeira interdição da Arena, é que as marcações poliesportivas serão refeitas. Entretanto, ainda assim, a volta da prática do basquete não está garantida, devido à adaptação do modelo das tabelas ao novo piso da arena. “A nossa tabela é aquela tabela de empurrar. Ela é muito pesada e o piso, como é aquele piso modular, é mais frágil pra você empurrar a tabela em cima dele. Então eu não sei como é que a gente vai fazer essa logística para trabalhar com a tabela em cima. Mas não é que não pode usar”, afirmou o assessor técnico.

#paratodosverem: Ao centro, em foco, duas tabelas móveis de basquete expostas ao tempo com um bebedouro quebrado ao lado. Ao fundo, uma parede toda azul e pouco mais de um terço da imagem é coberto por um piso de paralelepípedos com mato crescendo.
Tabelas de basquete da Arena Mariana estão em área externa, expostas ao tempo e sem proteção. Foto: Thiago Gomes

Desde 2012, quando foi fundada a Associação de Basquete Marianense (ABM), foram realizadas algumas iniciativas para o desenvolvimento da modalidade, como a criação de categorias de base, treinamentos para atletas juvenis, treinos para adultos e o Torneio de Basquete 3x3, que começou em 2016 e foi realizado anualmente até 2019. 


A co-fundadora da associação, Priscilla Tukoff, explicou que, ao longo desses anos, a Prefeitura de Mariana contribuiu com algumas necessidades da ABM, como equipamentos, alimentação, arbitragem, premiações para os eventos e cessão de espaços para treinos. Entretanto, raramente houve iniciativa do Município em relação à modalidade: “a Prefeitura, teoricamente, apoia, mas não apoia. Ela apoia se a gente der 80% dos passos, aí ela vai lá e dá os 20% que estão faltando. É assim que funciona”, conta.


#pratodosverem: Ao centro da imagem, uma tabela de basquete preta com aro laranja e sua rede branca encontra-se rasgada. Ao fundo desfocado encontra-se um carro e um prédio cinza.
Tabela da quadra do bairro Rosário em mau estado de conservação. Foto: João Alexandre Gonçalves

Sem um treinador direcionado para a modalidade, desde o final de 2023, na Secretaria de Esportes e Eventos, o basquete local, principalmente as categorias de base, se vê sem projetos públicos e perspectivas futuras. No ano de 2024, por exemplo, das 49 bolsas aceitas pelo Bolsa Atleta, programa organizado pela Secretaria responsável por contribuir para a valorização das práticas esportivas, nenhuma foi direcionada ao basquete. A bolsa por atleta pode chegar a quase mil reais, conforme critérios estabelecidos pela Lei nº 2.025/2006. 


A Secretaria de Esportes de Mariana acredita que o declínio da modalidade não tem relação com a falta de apoio público ou com a má estrutura dos espaços esportivos. Avelino Silva diz que a região sofre com a falta de profissionais capacitados para a modalidade e afirma não ter uma previsão para novas contratações. “Talvez o basquete tenha tido essa queda por falta de mão de obra. Porque, assim, a gente tem vários profissionais de educação física, muita gente formando, mas ninguém específico nessa área.”


O assessor ainda afirma que a possibilidade de futuros projetos relacionados à modalidade dependem desse profissional especializado no basquete ser contratado pela Prefeitura. “Se a gente tiver mão de obra e alguém que queira, porque a pessoa também tem que ser proativa, né? A pessoa tem que entrar e querer fazer acontecer. Se tiver um profissional qualificado que queira fazer acontecer e tenha a oportunidade de entrar na secretaria e estar trabalhando conosco, eu acredito que tem tudo para dar certo”, afirma.


Porém, a falta de perspectiva para o futuro do esporte em Mariana foi um dos principais motivos para Victor Augusto Rodrigues, 26 anos, último professor de basquete contratado pela Prefeitura de Mariana, deixar o cargo no início deste ano. Segundo ele, estar em uma secretaria que não consegue desenvolver o esporte em que ele é especialista, o desmotivou a continuar no cargo: “Uma adequação mínima de quadra mesmo a gente não conseguiu ter. O espaço que a gente tinha era aberto ao sol. Como é que eu vou colocar uma criança pequena para ficar no sol da tarde, por exemplo?”, questiona o professor.


Após deixar o projeto da Prefeitura, Victor decidiu começar a própria escolinha de basquete, oferecendo aulas em um clube privado da região para jovens de até 18 anos. Existe uma taxa para participação, mas espera-se que até o final de 2024 haja um patrocínio para tornar a oferta isenta de pagamento e, assim, alcançar todos os jovens de Mariana interessados pelo basquete.


#paratodosverem: Entre o buraco de uma grade, uma quadra poliesportiva com o piso azul, vermelho e amarelo, com resíduos descartados ao fundo. A esquerda uma tabela de basquete preta e um gol de futsal branco.
Legenda: Lixo acumulado na quadra do bairro Rosário. Foto: João Alexandre Gonçalves

Nesse novo ambiente, Victor encontra estrutura suficiente para suas aulas, diferente das tabelas tortas, marcações com tamanhos errados, falta de iluminação, falta de cobertura e pisos extremamente desgastados das instalações públicas. Junto a essas incoerências que dificultam e prejudicam a prática do basquete nas quadras de Mariana, a ausência de iniciativas voltadas para a modalidade, contribui para o declínio de um esporte que, apesar de ter uma significativa quantidade de entusiastas e praticantes na região, vê sua popularidade e potencial frustrados. 


A situação atual revela a necessidade de uma reavaliação das políticas esportivas locais e de um compromisso renovado com o desenvolvimento de modalidades. Sem uma intervenção concreta e uma visão estratégica, o basquete marianense continuará a enfrentar um futuro incerto, sem perspectivas de recuperação e crescimento.



Curiosidade

O basquetebol é uma modalidade com mais de 100 anos no Brasil, mas que ainda apresenta dificuldades para incentivo da prática. A chegada do esporte ocorreu em 1896, quando o estadunidense Augusto Shaw, professor da Universidade de Yale (Connecticut) foi convidado a dar aulas na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo e, junto, trouxe o esporte, que rapidamente foi disseminado por todo o país, principalmente a partir dos anos 90, quando se popularizou pelo mundo inteiro com a ascensão da seleção estadunidense, o “Dream team” e do atleta Michael Jordan.


Desde então, em todo o território nacional, o esporte  é deixado em segundo plano em relação ao futebol, tanto em termos de investimentos, quanto de incentivos. Um exemplo claro ocorreu com a seleção masculina nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, quando, por falta de patrocínios e financiamento, o treinador Aleksandar Petrovic assumiu a equipe voluntariamente 3 meses antes da competição.




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