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Carta aberta ao leitor: A esperança que reflete na luta das comunidades atingidas de Mariana

  • Alice Oliveira
  • 8 de abr.
  • 3 min de leitura

Atualizado: há 6 dias


Foto por Ana Carolina Vasconcelos
Foto por Ana Carolina Vasconcelos

Queridas e queridos leitores,


Apresento a vocês o trabalho de extensão do Jornal Laboratório Lampião, o projeto nasceu do desejo de escutar, compartilhar, aprender e, acima de tudo, repercutir, com o auxílio da CABF, as vozes das comunidades atingidas pelo rompimento da barragem do Fundão, em Mariana, que era responsabilidade da Samarco, Vale e BHP Billiton. Sabemos que o crime deixou marcas profundas, não apenas no meio ambiente, mas também nas histórias de vida e nas memórias dessas pessoas. A ideia da produção extensionista é dar mais autonomia para as fontes, numa tentativa de aproximar a redação da realidade e das demandas das comunidades atingidas, compreendendo que o testemunho, sempre em primeira pessoa, é uma das ferramentas mais importantes e potentes do jornalismo. Queremos que essas vozes, que foram tão apagadas, ecoem alto, diferente da sirene que não tocou naquele fatídico dia de 5 de novembro de 2015.


O Lampião, de um modo geral, acredita que a Universidade deve ultrapassar seus muros e se entrelaçar com as realidades hiper-locais, ou seja, com as questões sociais, políticas e culturais da região de Mariana, Ouro Preto e Itabirito. Na extensão, em específico, produzimos um jornalismo, além de humanizado e responsável, ativista. Compartilhar essas histórias, dores, injustiças e esperanças é uma forma de resgatar e preservar as memórias coletivas das comunidades de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo, Paracatu de Cima, Pedras e Ponto da Gama, e contribui, mesmo que minimamente, para a reconstrução simbólica e emocional desses territórios. É uma forma de resistir.


Foi pensando nisso que todas as produções da Extensão foram feitas nos formatos audiovisual, para que esses rostos e vozes sejam vistos, ouvidos, associados e principalmente, lembrados. Trazemos as pessoas atingidas como os protagonistas da história, preservando sempre seu testemunho e vivência como a palavra final. Não existe um outro lado da margem para ser ouvido, principalmente quando esse outro lado foi o que poluiu o rio. Com atenção à ética jornalística, houve o cuidado para não revitimizar essas pessoas ao evitar produções sensacionalistas que fazem a vítima revisitar traumas e dores de forma desnecessária ou agressiva. Acreditamos em um jornalismo responsável e cuidadoso e as fontes tiveram liberdade para adentrar o tema da forma mais confortável possível. 


Nesta edição, abordamos assuntos que giravam em torno do Novo Acordo de Mariana, um novo documento de repactuação homologado em outubro de 2024, fruto de dois anos de negociação com as empresas controladoras da Samarco, as já citadas Vale e BHP Billiton. Apesar da longa espera, as comunidades atingidas não tiveram qualquer participação na formulação do novo acordo, nem as cidades afetadas, como Mariana e Ouro Preto, que não assinaram o documento. No fim, a repactuação parece só beneficiar quem arquitetou o desastre: as mineradoras. Quase que simultâneo ao Novo Acordo, esta edição foi marcada pela decisão do Tribunal Regional Federal da 6ª Região, que inocentou as mineradoras rés de todos os crimes ambientais relacionados ao rompimento da Barragem do Fundão. Uma ação também é movimentada na justiça inglesa, já que a BHP Billiton é uma empresa anglo-australiana e a decisão está prevista para sair ainda em 2025.


Diante dessa série de injustiças, nossas matérias focaram nas implicações da falta de diálogo com as comunidades e falamos de assuntos como a desapropriação do Bento Origem (como o território atingido é chamado pelos ex-moradores), indenizações pouco compensatórias, a destinação de parte do dinheiro da repactuação para a construção da BR-356 que liga Mariana à capital mineira Belo Horizonte, atraso e problemas estruturais dos reassentamentos, precarização da saúde nos distritos atingidos, a revolta com a decisão da justiça brasileira e as expectativas acerca da ação inglesa. Também falamos de cultura, futebol, memória e saudade.


Deixamos aqui o nosso mais profundo agradecimento aos membros da CABF e das comunidades atingidas, por terem disponibilizado o pouco de seu tempo para construirmos essa edição juntos, especialmente o Mauro, Marino, Luzia, Maria, Mônica, Marlene, Vicente, Marcos e Mirella. Agradecemos também à Cáritas de Mariana e aos Advogados Bernardo Campomizi e Henrique Almeida, por colaborarem conosco e nos ajudarem a realizar um jornalismo ativista e comprometido com a verdade. 


Convidamos você, leitor, a mergulhar nessa jornada de luta e resistência contra o apagamento das comunidades atingidas de Mariana. Que os algozes desse crime, a Vale, a BHP Billiton e a Samarco, sejam sempre lembrados e cobrados, para que a justiça e reparação chegue até a Bacia do Rio Doce e às comunidades atingidas ou devastadas, que insistem em lutar e resistir.


Com muita Esperança,

Alice Oliveira, editora de Extensão do Jornal Laboratório Lampião.


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