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Thiago Gomes

Crônica | Cheiro de chuva

Atualizado: 6 de out.

#paratodosverem: Morro no Parque do Gogô, em Mariana, com parte da cidade ao fundo. A queimada no morro tem chama alta de fogo e, dela, sobre fumaça escura e espessa. Outras regiões do morro são cobertas por fumaça branca.
Queimadas na área no parque arqueológico do Gogô, em Mariana/ Foto: Thiago da Costa Gomes.

Mariana, a histórica cidade de Minas Gerais, conhecida por suas belas igrejas barrocas e por ser a primeira capital do estado, vem se tornando conhecida por outro motivo: a seca. Há mais de 150 dias, as chuvas não dão as caras, e as paisagens sempre verdes e exuberantes que costumávamos ver vêm se perdendo em meio à seca e se transformando em tons de marrom e cinza.


Estamos acostumados a um clima ameno durante o inverno e as chuvas retornando no início do mês de setembro, mas esse ano tudo parece diferente, e nos vimos obrigados a adaptar as rotinas e até o próprio sistema respiratório ao tempo seco e à baixa umidade. E como se não bastasse a secura do ar, quando chegamos em casa após um longo dia cansativo de trabalho, nos deparamos também com a secura nas caixas d’água. Afinal, dependemos de caminhões-pipa diariamente para poder tomar um banho e ter o merecido descanso no fim do dia.


É, não está fácil ser marianense nessas épocas. E pensar que se pegarmos as médias de trinta anos atrás, as máximas no verão eram de 26 °C e em setembro já havia caído 86 mm de chuva. O que podemos esperar daqui para a frente, só Deus sabe. Como se não bastasse o calor, a chuva também não dará as caras? De uma coisa sei, quem fica feliz com isso são as empresas de ar condicionado e umidificadores de ar, porque só assim para sobreviver. 


Saudades dos períodos frios e chuvosos, ou posso dizer até nostalgia - já que há tanto tempo não cai um pingo d’água por aqui -, daquele cheiro da chuva molhando a grama e da correria para fechar a janela e não molhar o quarto. A única chuva que vi na cidade nos últimos meses foram chuvas de cinzas vindas da série de queimadas que a região enfrentou e que nos fez respirar fumaça por semanas.


Tem também a chuva de promessas que se espalham pelas ruas, tomadas por cartazes políticos coloridos, em contraste com o cinza do céu. Os candidatos se multiplicam, cada um vendendo suas utopias prometidas em troca de votos, mas a esperança que deveria brotar em tempos de eleições, se confunde com a desilusão das promessas não cumpridas. Esse desgosto só reforça a angústia da espera por uma chuva que nunca vem. Os desejos por mudanças na hostilidade do clima e no panorama político fica mais real em meio a tanta fumaça, cinzas, bandeiras e santinhos.


Pelo menos o problema da seca não é culpa exclusiva dos políticos. Essa responsabilidade é de uma humanidade que vem provocando atrocidades no meio ambiente durante anos. E ainda tem gente que não acredita no aquecimento global. Vai entender! Agora, para quem tem fé, resta rezar. Independente da religião, toda oração é bem-vinda. Ah, e se hidratar bastante até a gente poder voltar a sentir aquele delicioso cheiro de chuva invadindo nossas casas.


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