O programa Bolsa Atleta faz parte das políticas públicas para o esporte na Primaz de Minas, mas critérios rigorosos deixam talentos sem o benefício.

As políticas públicas desempenham um papel crucial no fomento de diversas áreas e não é diferente para o esporte, com incentivo às práticas esportivas em diferentes níveis. Além de serem instrumentos de inclusão social e de promoção da saúde, elas garantem a valorização dos atletas e proporcionam as condições necessárias para que os competidores possam se desenvolver em suas modalidades. Em Mariana, o programa Bolsa Atleta se destaca como uma importante política pública voltada ao fortalecimento do esporte local.
A edição mais recente do Bolsa Atleta, promovida pela Prefeitura de Mariana, registrou números recordes desde a criação do programa em 2006. Com 75 inscritos, 49 atletas foram selecionados para receber o benefício em 2024, representando o maior número de contemplados da história. Segundo a Secretaria de Esportes e Eventos, o investimento total foi de R$ 213 mil. Para a edição de 2025, as inscrições encerraram-se no dia 11 de dezembro, com o resultado final divulgado em 20 de dezembro.
Implementado pela Lei nº 2.025/2006, o programa oferece apoio financeiro a atletas marianenses para custear treinamentos, equipamentos, viagens e despesas com competições. Ao permitir que os esportistas representem a cidade em campeonatos regionais, nacionais e internacionais, o Bolsa Atleta cumpre o papel de viabilizar oportunidades e impulsionar talentos. No entanto, a realidade dos atletas mostra que, apesar dos avanços, ainda há desafios a serem superados, como os critérios rigorosos de seleção e o atendimento limitado a algumas categorias.

A atleta de mountain bike Liege Walter, 36 anos, é um exemplo de dedicação ao esporte e beneficiária desde a criação do Bolsa Atleta, em 2006. Desde então, Liege vem consolidando sua carreira como competidora em provas estaduais e nacionais, tendo alcançado sua maior conquista em 2024, com o 4º lugar no Pan-Americano de Maratona, um resultado expressivo no cenário internacional. Segundo Liege, a bolsa é fundamental para viabilizar treinamentos, viagens e equipamentos, ainda que não cubra todos os custos que o esporte exige. Ela também ressalta a importância de se filiar à Federação Mineira das modalidades e, assim, se habilitar para inscrição no programa.
O mountain biker Victor Milagres Miranda da Costa Santos, de 34 anos, é um exemplo de atleta que também tem se beneficiado com o programa. Destaque nas competições de downhill e enduro, Victor sagrou-se, em 2023, Campeão Mineiro de Downhill e Campeão Mineiro de Enduro, além do título no Campeonato Brasileiro de Enduro, resultados que garantiram sua habilitação para o Bolsa Atleta em 2024. Segundo ele, a bolsa é essencial para manter seu desempenho em um esporte de alto custo.
Por outro lado, a corredora master (atletas com mais de 35 anos) Ana Paula de Almeida, 49 anos, evidencia as limitações do programa. Apesar de ter um histórico vitorioso, sendo campeã sul-americana e conquistando pódios com frequência, Ana Paula nunca conseguiu ser contemplada pela Bolsa Atleta. A atleta aponta os critérios rigorosos como barreiras que dificultam o acesso de muitos esportistas ao benefício. Dentre elas, destacam-se a comprovação de residência no município, vínculo com entidade esportiva local e participação em competições estaduais ou nacionais, além da proibição de acúmulo de patrocínios ou salários.
Ana Paula lamenta também a ausência de bolsas para a categoria master, na qual muitos atletas continuam competindo e representando o país. “A gente está no pódio, competindo o tempo todo, mas sem apoio. Se tivesse conseguido a bolsa, poderia ter participado do Mundial este ano,” desabafa. Casos como o de Ana Paula mostram que, embora o Bolsa Atleta represente um avanço no cenário esportivo de Mariana, ainda há lacunas a serem preenchidas.

A ampliação do programa, com critérios mais inclusivos e a criação de categorias específicas, como a master, podem garantir que atletas com trajetórias vitoriosas recebam o apoio necessário para continuar competindo e levando o nome da cidade e do país a grandes eventos. Além disso, conforme ressalta o mountain biker Victor, a bolsa beneficia apenas as pessoas que já praticam o esporte e possuem boas classificações, indicando que, também, iniciantes não são contemplados.
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