As intervenções na Igreja de Bom Jesus de Matosinhos visam restaurar monumentos e obras históricas, além de reparação em sua estrutura arquitetônica.
Construída no final do século XVIII, a Igreja localizada no Bairro Cabeças é um ícone da arquitetura e arte barroca em Ouro Preto. Além de refletir as características da época em que foi erguida, desempenha importante papel na preservação e promoção da cultura histórica da cidade, abrigando pinturas do mestre Ataíde em seu interior e obras atribuídas a Aleijadinho em sua fachada.
Com mais de 230 anos e tombada em 1939 como Patrimônio Histórico, a Igreja está fechada desde 2014 aguardando a restauração. Passados dez anos, as obras finalmente começaram no último dia 27 de julho, após a liberação dos recursos pelo novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), com um investimento de cerca de R$3,9 milhões.
A obra, em parceria entre o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e a Prefeitura Municipal de Ouro Preto, tem como objeto a restauração e reforma da Igreja, e é planejada para execução em três etapas: obras civis, contenção da encosta e restauração de elementos artísticos.
A primeira etapa referente às obras civis, já está em andamento, consiste na reforma das estruturas arquitetônicas e das instalações complementares: “cobertura (telhado), estruturas e reforço estrutural, esquadrias, alvenarias, drenagem, agenciamento externo, grampeamento da fachada, pisos e forros, e muros frontal e parte do lateral”, conforme detalhado pelo assessor de comunicação do IPHAN, André Nogueira.
Segundo Nogueira, as áreas de reforma foram definidas a partir de projetos arquitetônicos de restauração contratados pela Prefeitura Municipal de Ouro Preto e pela Paróquia de Nossa Senhora do Pilar ao longo dos últimos anos. “Nesses projetos, foram avaliados o estado de conservação de toda a Igreja e definidas as necessidades e critérios para a realização das obras. Todos os projetos passaram pelo processo de aprovação do Iphan, juntamente com o planejamento orçamentário aprovado pelo Departamento de Ações Estratégicas e Intersetoriais - DAEI (setor do Iphan responsável pela análise dos orçamentos no âmbito do PAC das Cidades Históricas)”, explica ele.
Arthur Coelho, arquiteto restaurador da Prefeitura de Ouro Preto e um dos responsáveis pela obra, explicou que o longo prazo para o início dos trabalhos se justificou pelas tramitações legais e à complexa burocracia envolvida no projeto: “Foram necessárias diversas revisões dos planos, tanto para a execução da obra quanto para assegurar a segurança, abordando aspectos como prevenção de incêndios, instalações elétricas e drenagem do terreno”.
Cuidados ao longo da restauração
No caso da Igreja do Bom Jesus do Matosinhos, a restauração é crucial para conservação da cultura local, pois, segundo Gustavo Bastos, professor de Restauração da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP), “os templos religiosos possuem características significativas do período em que foram construídos e desempenham um papel importante na representação e na narrativa da história local.”
Para preservar esse legado, é essencial adotar cuidados rigorosos durante os reparos, garantindo a conservação do maior número possível de detalhes originais e evitando a perda de material. A restauradora da FAOP, Ana Paula Mendes, ressalta que uma restauração bem-sucedida segue os princípios fundamentais, como reversibilidade, compatibilidade dos materiais utilizados e respeito à historicidade do material e dos elementos artísticos.
Segundo Arthur Coelho, todos os cuidados essenciais estão sendo tomados para que não ocorra nenhum imprevisto com a coletânea artística da Igreja de Bom Jesus de Matosinhos. “Todos os elementos artísticos e integrados - altares, lustres e a portada - estão passando por processo de higienização e serão protegidos durante a obra. Os forros da sacristia e nave serão desmontados, higienizados, desinfestados e acondicionados até a fase de restauração dos elementos artísticos integrados. As esculturas já se encontravam armazenadas fora da Igreja desde o período do fechamento.”, explica André Nogueira (IPHAN)
Tradições
De acordo com a tradição, a devoção por Bom Jesus começou em 124 d.C., quando uma imagem de Jesus Crucificado foi encontrada na praia de Matosinhos, ao norte de Portugal. Essa imagem é atribuída a Nicodemos, um contemporâneo de Jesus que, segundo a Bíblia, testemunhou a crucificação. Para proteger a escultura de perseguições religiosas, Nicodemos teria lançado-a ao mar, e ela foi posteriormente resgatada e levada a um mosteiro local. A imagem tornou-se um centro de devoção devido aos eventos milagrosos associados à sua descoberta.
Anualmente, no dia 9 setembro, celebra-se o Dia de Bom Jesus de Matosinhos e em comemoração a data, todos os anos, em Ouro Preto, acontece a novena em sua homenagem, seguida de comemorações com a venda de pasteis e caldos nos arredores da Igreja. No entanto, devido às obras, os moradores locais afirmam que ainda não sabem se a festividade ocorrerá este ano.
As comemorações deste ano ainda estão incertas. A Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, responsável pela igreja, está aguardando a chegada do novo pároco, cuja posse será no dia 26 de agosto. Após sua chegada, os detalhes das comemorações serão definidos.
Espera-se que as próximas festas de Bom Jesus de Matosinhos possam ser realizadas nos arredores da igreja, como tradicionalmente ocorre, após a conclusão das obras, prevista para 26 de janeiro de 2026.
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