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Beatriz Granha e Mafê Viana

Seu Jadir, uma unanimidade marianense

“Vamos no Seu Jadir?” É com essa frase que muitas noites começam - ou terminam - para quem mora em Mariana. Ir na pastelaria do Seu Jadir, oficialmente Essência Mineira, é sinônimo de comer um bom pastel na cidade. Famosa pela qualidade dos pasteis, pelo carinho no atendimento e pelo ambiente aconchegante, a pastelaria é, há décadas, uma referência na região.


Jadir Duarte Filho é natural de Itabirito e se mudou para Mariana há cerca de 30 anos. Ele comandava uma sorveteria em sua cidade natal, e chegou na Primaz de Minas decidido a abandonar o comércio. Inicialmente trabalhou com arte em madeira, com sua então esposa, mas não se adaptou. Passou a vender caipirinhas, caipifrutas, e mais tarde, pasteis, no Carnaval e em outros eventos no centro, pela janela de sua casa, na Praça Gomes Freire. “A gente morava ali no Jardim, vendíamos na nossa janela, e começou a fazer sucesso. Quando surgiu esse ponto, viemos pra cá e montamos a pastelaria. Começamos contra a minha vontade, eu nem queria trabalhar no comércio mais”.


#paratodosverem: a foto mostra um senhor branco, vestido com camiseta e boné brancos, numa cozinha, onde prepara alimentos em uma bancada
Seu Jadir preparando um pastel | Foto: Mafê Viana

Seu Jadir conta que o início do empreendimento apresentou muitas dificuldades: ele mesmo reformou o espaço, a produção era mais lenta pela falta de equipamentos e a loja tinha pouco movimento. “Eu nunca fui de desistir, mas foi bastante difícil no começo. Hoje meu forte aqui são os estudantes, e foi com eles que começou, explica ele. Eu mesmo atendia e tinha muita amizade com eles. Graças a Deus, o negócio pegou de verdade, hoje trabalho mais tranquilo e estou mais preocupado com a saúde do que com o dinheiro. Não quero ter nada de luxo, gosto da simplicidade mesmo, tô aqui, sei que o pessoal gosta muito, a gente faz tudo caprichado, eu não tenho problema com ninguém e aprendi a lidar com o público.”


No início, os estudantes eram o carro-chefe da casa e o movimento diminuía consideravelmente no período de férias da Universidade. Hoje, isso não acontece mais, muitas mesas são ocupadas por crianças, jovens, adultos e famílias inteiras, naturais de Mariana ou vindos de outras regiões. Com a conquista de públicos diversos, a pastelaria continua cheia nos períodos de recesso.


Seu Jadir é uma unanimidade, mas poucos clientes sabem que a pastelaria é batizada como Essência Mineira. Quase um patrimônio de Mariana, sua imagem é totalmente atrelada ao estabelecimento. No último carnaval, o tradicional Bloco do Zé Pereira, cuja temática escolhida para 2024 foi “personalidades de Mariana”, homenageou Seu Jadir com a confecção de um boneco. “Ele foi um dos nomes mais citados entre os membros da diretoria no momento da escolha”, explica Darlan Malta, atual presidente do bloco.



Ouve-se com frequência que é dele o melhor pastel da cidade e muitos nem sabem da existência da concorrência. Não é raro que ex-alunos da UFOP e antigos moradores retornem à cidade anos depois e façam uma visita à pastelaria, movidos pela nostalgia e pelas boas lembranças no local. Questionados sobre o motivo de escolher esse ponto para reuniões de família, encontros com grupos de amigos, comemorações de aniversários e as mais diversas ocasiões, clientes destacam a qualidade impecável da comida, o preço bom, o atendimento carinhoso e a sensação de “estar em casa.”


Tamires Assunção, estudante de Serviço Social na UFOP, afirma que ao pensar em sair com amigos, todos sugerem o mesmo lugar. De acordo com ela, frequentar a pastelaria é um hábito que faz parte da cultura dos estudantes. A fala de Victor Hugo Martins, sentado à mesma mesa, confirma a constatação: “Para mim, aqui é um espaço de socialização, é um ritual, é diferente. Tem alguma coisa que é mais que só comer pastel e ir embora. É algo bem forte na cultura do ICSA e do ICHS.” relata o cientista da computação formado pela UFOP, se referindo aos campus da Universidade em Mariana. Marcos Gonçalves, estudante do curso de História, endossa a opinião dos amigos: “Na minha cidade nem tenho o costume de comer pastel como tenho aqui, é a melhor pastelaria da cidade, nem em Ouro Preto conheço alguma que seja tão boa. A gente vem com grupos grandes de amigos, ou depois de rocks [festas universitárias], ou pra dates [encontros], é um espaço de muitas memórias”.


Atualmente, seu Jadir se dedica inteiramente à produção, e grande parte do carisma da casa fica por conta de Elisângela Aparecida Alves, a famosa Lili. Nascida em Itabirito e moradora de Mariana há pouco mais de cinco anos, é funcionária da pastelaria desde 2021 e mantém uma relação muito próxima com os clientes, com destaque para os universitários: “Eu tenho muito carinho com meus meninos, sempre falo aos pais que visitam que aqui é um lugar tranquilo e de família, que eles não precisam se preocupar quando os filhos estão aqui. A gente dá carinho, dá atenção, conversa, eu converso com todo mundo, né? Já trabalhei em muitos bares e restaurantes, e todo lugar tem alguns clientes difíceis de lidar, mas eu sempre falo pro Seu Jadir que aqui é o mais fácil. Não sei porque, mas é muito difícil ter algum problema com clientes, agradeço a Deus todos os dias”.


Para ela, o motivo do sucesso é simples: “A receita é amor e carinho, é isso que chama atenção”. O afeto da funcionária com os estudantes é notável, de acordo com ela os universitários se sentem sozinhos por estarem longe de casa, e a pastelaria é um lugar onde encontram acolhimento. A afetividade também é percebida entre os membros da equipe: Lili nos conta que Seu Jadir é um ótimo patrão, flexível e respeitoso. Ela afirma que mesmo em dias difíceis, seu humor melhora ao chegar ao local de trabalho, e que, atualmente, não se imagina trabalhando em outro lugar...

“Estamos aqui para oferecer uma palavra amiga, carinho, amor e pastel” Lili.

Wendel Costa, 28, e Giovana Helena, 23, nascidos em Ouro Preto e Mariana, respectivamente, são recebidos às quintas-feiras com a pergunta de Lili: “O de sempre?”. O casal relata que as idas à pastelaria já são uma tradição. “ É sempre a mesma coisa: dois pasteis de frango, catupiry e bacon e uma Coca 600, quando a gente chega ela já sabe", conta Wendel. Os pasteis do Seu Jadir são descritos pelo casal como os melhores da cidade, feitos com muito capricho, e sempre exatamente iguais. Além da qualidade, a hospitalidade não passa despercebida: “Eu gosto de lugar simples, aqui tem muita receptividade, sempre tem um cantinho pra gente encostar, mesmo quando tá cheio. Prefiro lugar assim do que ir em lugar mais refinado que não somos tão bem tratados igual aqui”, nos contou Wendel.



O dono do estabelecimento é o responsável por toda a produção dos pasteis. Ele explica que se o serviço é terceirizado, a qualidade muda. Relata também que durante a pandemia de Covid-19 contratou outra pessoa para fazer os pasteis enquanto ele se dedicava às entregas, mas os clientes reclamaram e disseram que não era a mesma coisa. “Eu tô sempre aqui trabalhando, levanto de manhã pra fazer as compras, fico o dia inteiro fazendo as massas. Hoje tenho funcionárias, então fico por conta do pastel, é mais tranquilo. Antes eu fazia atendimento e recebia no caixa, então conversava muito com os clientes, hoje a Lili que atende e eu fico mais lá dentro, eu nem converso muito, fico focado fazendo o pastel”, conta Jadir.


O proprietário reconhece o sucesso do negócio e carrega-o com orgulho: Seu Jadir destaca que os pastéis são feitos com muito carinho e amor, e que sua primeira preocupação são os clientes.“Todo mundo vem, gosta, tem gente que vem de longe, e eu tenho o maior orgulho disso aqui, hoje em dia eu só tenho a agradecer a Deus. Nem fico pedindo nada, não tenho nem sonho de ganhar na loteria mais, basta eu querer trabalhar”. O proprietário se mostra satisfeito com o negócio e revela não ter ambição de criar algo maior. Questionado sobre planos futuros, explica que não visa expansão e aumento dos lucros, e que seu foco é manter a qualidade. “Muitos comerciantes só se preocupam com dinheiro, antes eu só trabalhava, agora eu aproveito mais, uma hora eu vou morrer e esse trem vai ficar todo aí, tenho que aproveitar minha vida também.”






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